Santa Corona, a protetora contra epidemias – Sim, é real!
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Parece brincadeira, mas é só uma curiosa coincidência. Sim, Santa Corona existe e ela é a protetora contra epidemias e doenças infecciosas. E chama-se Corona. Não é à toa que Santa Corona está sendo associada à pandemia de coronavírus, como a padroeira da resistência a epidemia. E como tudo começou? A gente conta para você!
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História incerta e pouco conhecida
Quando falamos de Santa Corona, estamos lidando com uma parte muito antiga da história, da qual restaram poucos registros. Assim, sabemos muito pouco sobre essa santa e algumas das informações são controversas.
Sabemos que Corona viveu no século II depois de Cristo. A maioria das fontes aponta a Síria, na época sob o domínio romano, como cidade natal da santa. Alguns historiadores afirmam ter sido Damasco o local onde se desenrolou essa história e outros afirmam ser a Antioquia, Sicília ou Alexandria os possíveis cenários do martírio da jovem menina cristã. Mas quase todos concordam que Santa Corona foi morta no ano de 170 d.C., durante o reinado de Marco Aurélio, por ordem de um juiz romano chamado Sebastian.
“O melhor modo de venerar os santos é imitá-los”
O fato é que, embora a devoção a esta santa não seja muito difundida, ela experimenta em 2020 uma onda crescente de popularidade desde que a pandemia de coronavírus teve início. Com esse nome e sendo protetora contra as epidemias, não podia mesmo ser diferente!
Fé cristã proibida
Se você é cristã e mora no Brasil, país de maioria e tradição católica, pode parecer estranho pensar que nem sempre crer em Jesus foi bem-visto. Pelo contrário, nos primeiros séculos após a ressurreição de Cristo os cristãos foram muito perseguidos, torturados e mortos. É um período que chama-se cristianismo primitivo, uma etapa da história cristã que durou aproximadamente três séculos (I, II, III e parte do IV), que se inicia após a ressurreição e termina em 325 com a celebração do Primeiro Concílio de Niceia. Foi nesse período que viveu Corona, que era apenas uma menina de 16 anos quando ousou assumir sua fé em Jesus. E sua revelação teve um preço muito alto: sua própria vida.
Conta-se que Corona, com 16 então anos, viu um homem chamado Vitor sendo torturado por soldados romanos, pois havia confessado ser cristão. O homem se recusou a negar Cristo, então estava sendo severamente castigado a mando de um juiz chamado Sebastian, que desprezava profundamente os cristãos. Ele decidiu dar um castigo a Vitor, que foi amarrado a um pilar e chicoteado sumariamente até que sua pele estava pendurada em seu corpo. A menina, indignada com a brutalidade que estava presenciando, resolveu se aproximar do pobre homem e começou a orar por ele, mostrando então a todos que ali estavam que ela também partilhava da mesma fé que Vitor.
“O silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se calaram”
Há quem diga que Vitor e Corona eram marido e mulher, e outras versões afirmam que Corona era esposa de um dos soldados romanos que torturavam Vitor. Os soldados não demoraram muito para trazer Corona para Sebastian, que, imediatamente, a colocou na prisão e a sentenciou a uma morte brutal: ela foi amarrada por soldados a duas palmeiras curvadas que, ao retornarem à posição vertical, imprimiram uma força tão violenta que destruíram o corpo da jovem. Vitor, na sequência, foi decapitado, e assim se deu o martírio de São Vitor e Santa Corona.
Descanso eterno na Alemanha e Itália
Corona foi declarada santa muito antes do processo formal de canonização ter sido criado pela igreja católica. Na época, os mártires recebiam status de santos devido à fé que os devotos tinham neles. Certamente a coragem da jovem em manter sua fé e a decisão de apoiar Vitor durante seu martírio foram suficientes para transformá-los em santos. Por isso, os restos mortais de Santa Corona foram preservados e hoje são considerados relíquias. Parte desse tesouro foi levado em 997 para Aachen, na Alemanha, pelo rei Otto III, um imperador romano-germânico que reinou na Itália de 996 até sua morte e na Germânia a partir de 983.
Otto III mandou guardar parte dos restos mortais de Santa Corona e São Vitor em um túmulo debaixo de um piso na Catedral de Aachen, e a outra parte está preservada em uma basílica na cidade de Anzù, na Itália, ironicamente um dos países mais afetados pela pandemia de coronavírus.
“Quando os convido a ser santos, peço que não se conformem em ser de segunda linha, mas que aspirem a um “horizonte maior. Não se conformem em ser medíocres”
A Catedral de Aachen já planejava colocar o relicário da santa em exibição pública muito antes do início da pandemia. As peças fariam parte de uma exposição sobre ourivesaria durante o verão europeu, entre o final de junho e meados de setembro de 2020. Como o turismo nos próximos meses é incerto e aglomerações são altamente desaconselháveis, a data do evento ainda é bastante desconhecida. A única certeza possível neste caso é que, assim que as coisas normalizarem um pouco, esse evento certamente vai receber um número muito maior que o previsto de interessados em conhecer mais sobre a história de Santa Corona.
Porque Corona?
Será que a menina de 16 anos chama-se mesmo Corona? E como ela se tornou a protetora contra pestes, epidemias e doenças infecciosas? Essas perguntas também não são fáceis de responder e as origens de Santa Corona são difíceis de rastrear. De acordo com a Lexikon des Mittelalters, uma enciclopédia alemã sobre a história e a cultura da Idade Média (obra que reúne mais de 36 mil artigos em nove volumes), a história de Santa Corona foi transmitida oralmente durante os primeiros séculos, por isso não há registros oficiais de sua história.
A enciclopédia indica que a santa foi inicialmente invocada por caçadores de tesouros, açougueiros e madeireiros, e não menciona nada sobre a relação dela com epidemias. Mas esse patronato é quase tão antigo quanto a própria Corona: era muito comum que habitantes de pequenas cidades europeias costumassem rezar pela intercessão de Santa Corona em tempos onde doenças contagiosas atacavam os animais das fazendas e pequenas propriedades rurais locais. Não demorou para que ela fosse solicitada também para curar pessoas de doenças infecciosas e acabar com epidemias.
Se o nome da jovem martirizada na Síria era mesmo Corona, também não se sabe. Alguns acreditam que esse nome era uma referência à moeda da época (a palavra “corona” vem do latim e significa “coroa”) e que seu nome verdadeiro era Stephania. Corona seria, portanto, um nome que resultou do fato da santa ser invocada também para “assuntos de dinheiro, loteria e jogos de azar”, de acordo com a edição da enciclopédia publicada em 1931. Entretanto, essa referência sobre a possível veneração de Santa Corona por jogadores foi retirada nas edições posteriores do livro, e a edição mais recente (ano de 2001) coloca a santa como “patrona da sorte” e “dos caçadores de tesouros”.
Já na Enciclopédia Ecumênica dos Santos, organizada pelo pastor protestante Joachim Schäfer, é a obra onde encontramos a relação entre Santa Corona e as epidemias. Mas novamente, essa produção não possui informações mais detalhadas sobre como Corona se tornou a santa padroeira da proteção contra epidemias. Mas nesse momento que estamos enfrentando, qualquer ajuda é bem-vinda, não? Quanto mais santos e entidades a olhar por nós, melhor!
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