Santa Verônica: a mulher que estampou a face de Cristo
Em meio a dor e ao horror do calvário de Cristo, uma pessoa se destacou por sua compaixão através de um gesto misericordioso que ficaria marcado na história. Essa pessoa foi uma mulher, que ficou conhecida como Verônica, apesar de não se saber o verdadeiro nome dela.
Conheça a história de como o Santo Rosto ficou eternizado em um véu!
Amor e misericórdia durante o Calvário
Enquanto Jesus caminhava até o Monte Calvário para ser crucificado, uma mulher se aproximou e enxugou o Seu Divino Rosto, ensanguentado e suado, com um véu no qual ficou impressa a Santa Face do Messias. E quem era essa mulher? Infelizmente pouco se sabe. Nem seu nome verdadeiro é conhecido. Há quem ache que “Verônica” seja uma variante de “Berenice”, mas o fato é que não se sabe como se chamava aquela boa alma. O nome “Verônica” apareceu pela primeira vez no documento apócrifo As Atas de Pilatos.
No véu, ou lenço, ou pano, teria ficado impressa, desta forma, a Verdadeira Imagem de Cristo, ou o Seu “Vero Ícone”: daí que, por extensão, o nome “Verônica” passou a ser usado para indicar aquela mulher piedosa e não apenas o pano que recolheu o “Verdadeiro Ícone” de Jesus.
“Não há verdadeira justiça sem misericórdia”
Segundo a tradição, Santa Verônica foi uma mulher piedosa que morava em Jerusalém e que, após a Paixão do Senhor, se dirigiu a Roma levando consigo aquele véu tão especial. Uma vez na Itália, Verônica esteve diante do imperador romano Tibério e foi nesse momento que o primeiro milagre aconteceu: ela o curou depois de fazê-lo tocar na imagem sagrada. Ao morrer, teria deixado a relíquia do “Vero Ícone” para o Papa Clemente I.
No primeiro Ano Santo da história, celebrado em 1300, o Véu da Verônica foi uma das Mirabilia Urbis (maravilhas da cidade de Roma) que se expuseram aos peregrinos em visita à Basílica de São Pedro no Vaticano. Os rastros do Véu da Verônica se perderam nos anos sucessivos ao Ano Santo de 1600, até que a relíquia fosse reencontrada e preservada na Igreja da Santa Face de Manoppello. Contudo, esta história só adquiriu seu formato atual na Idade Média e, por isso, não é possível atestar que seja verdadeira. É mais provável que sua origem esteja relacionada com a história da imagem de Jesus na Igreja Ortodoxa, a da relíquia conhecida como Mandillo ou Imagem de Edessa, somada a um desejo dos fiéis de conhecerem a face de Jesus.
“A linguagem simbólica da crucificação é a morte do velho paradigma; ressurreição é um salto para toda uma nova maneira de pensar”
De acordo com a Enciclopédia Católica, o Véu de Verônica era considerado nos tempos medievais como a imagem verdadeira, a representação de Jesus anterior ao Sudário de Turim. A devoção à Santa Face de Jesus terá sido aprovada pelo Papa Leão XIII em 1885 e novamente por Pio XII em 1958. O Papa emérito Bento XVI foi o primeiro pontífice a visitá-lo, em setembro de 2016, atraindo novamente as atenções para essa relíquia.
Santa Verônica é comemorada na “Terça-feira gorda”, a terça-feira antes da quarta-feira de cinzas, o mesmo dia da comemoração da Santa Face.
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A Santa Face e as visões dos santos
Muitos religiosos relataram ter tido visões que confirmavam a veracidade do Véu de Verônica. A popularidade da devoção à Santa Face de Jesus se deve principalmente a duas freiras europeias (mas não as únicas), ambas batizadas em homenagem à Virgem Maria. Elas viveram com quase cem anos de diferença e ambas relataram visões de Jesus e Maria.
A primeira se chamava Maria de São Pedro, de Tours, na França, e viveu na década de 1840. A segunda era a irmã Maria Pierina de Micheli, que viveu na década de 1930 em Milão.
Maria de São Pedro
Em 1843, a irmã Maria de São Pedro, uma freira carmelita, relatou uma visão na qual Jesus teria lhe falado diretamente. Ela posteriormente relatou novas visões e conversas com Jesus e com a Virgem Maria nas quais ela teria sido incentivada a disseminar a devoção à Santa Face de Jesus, como uma reparação aos muitos insultos que Jesus sofreu em sua Paixão. A visão aconteceu em 1844 e, segundo a freira, Jesus lhe disse: “Ah! Se você soubesse quão grande é o mérito que você obtém ao dizer, mesmo que uma única vez, ‘Admirável é o Nome de Deus’ num sentido de reparação pela blasfêmia”. Suas visões continham também o texto de uma oração específica como um ato de reparação a Jesus Cristo que acabou se tornando conhecida como “Flecha Dourada”. Esta oração e a devoção à Santa Face de Jesus começou então a se espalhar entre os católicos da França a partir desta época.
Leão Dupont
O venerável Leo Dupont foi um religioso de uma família nobre que havia se mudado para Tours. Em 1849, ele fundou o movimento da adoração eucarística de Tours e que se espalhou dali para toda a França, ficando por isso conhecido como “Homem Santo de Tours”. Ao saber das visões de Maria de São Pedro, ele começou a manter acesa continuamente uma vigília perante uma imagem da Santa Face, mas, na época, a imagem utilizada se baseava no Véu de Verônica.
Dupont era devoto e promoveu a devoção à Santa Face por cerca de trinta anos, mas os documentos sobre a vida da irmã Maria de São Pedro e sobre suas visões eram mantidos em segredo pela Igreja Católica e não foram liberados. Mesmo assim, Dupont perseverou. Eventualmente, em 1874, Charles-Théodore Colet foi designado arcebispo de Tours, examinou os documentos e, dois anos depois, deu permissão para que eles fossem publicados e para que a devoção fosse encorajada, o que se deu pouco antes da morte de Dupont, que se tornou conhecido como “Apóstolo da Santa Face”.
Quando Leão Dupont morreu, sua casa na Rue St. Etienne em Tours foi comprada pela arquidiocese e transformada no Oratório da Santa Face, que passou a ser administrado por uma ordem chamada Padres da Santa Face criada no mesmo ano. A “Devoção à Santa Face de Jesus” foi aprovada pelo papa Leão XIII em 1885, que demonstrou seu desejo de fundar um oratório similar em Roma.
Santa Teresinha
Teresa de Lisieux também foi uma freira carmelita e que se tornaria conhecida por seu nome religioso de “Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face”. Ela foi apresentada à devoção à Santa Face pela sua irmã (verdadeira) Pauline (que adotou o nome de Agnes de Jesus ao se tornar freira). Santa Teresinha compôs muitas orações para expressar sua devoção à Santa Face e escreveu “Faça-me parecida contigo, Jesus” num pequeno cartão no qual ela colou uma imagem da Santa Face. Ela então pregou o conjunto num pequeno bolso sobre seu coração (dado que na época ainda não existia a Medalha da Santa Face).
Maria Pierina e a Medalha da Santa Face
Mais de noventa anos depois das primeiras visões de Jesus pela irmã Maria de São Pedro, outras visões foram reportadas na Itália. No primeiro dia da quaresma de 1936, a irmã Maria Pierina De Micheli, que nasceu perto de Milão, reportou ter ouvido de Jesus: “Eu desejo que Minha Face, que reflete as dores íntimas do Meu Espírito, o sofrimento e o amor do Meu Coração, seja mais reverenciada. Aquele que medita sobre Mim, Me consola”. Novas visões instigaram a irmã Maria a criar uma medalha com a Santa Face de Jesus, que se tornaria conhecida como Medalha da Santa Face. Num dos lados, ela traz uma réplica da imagem da Santa Face no Santo Sudário e uma inscrição baseada em Salmos 66:2: “Illumina, Domine, vultum tuum super nos” (“Permita, Senhor, que sua Luz brilhe sobre nós”). No outro, há uma imagem da Santa Hóstia radiante, o monograma do Santo Nome de Jesus e a inscrição “Mane nobiscum, Domine” que significa “Esteja conosco, Senhor”.
Depois de algumas dificuldades, a irmã Maria Pierina conseguiu autorização para cunhar a medalha e a sua devoção começou a crescer na Itália. Quando a Segunda Guerra Mundial começou, muitos soldados e marinheiros receberam a medalha. Maria morreu em 1945, no final da guerra. Em 2000, o papa João Paulo II afirmou que a inscrição “Illumina, Domine, Vultum tuum super nos” da Medalha da Santa Face sublinha a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre a Face de Jesus e a disseminação de sua devoção.
“Uma prova de que Deus esteja conosco não é o fato de que não venhamos a cair, mas que nos levantemos depois de cada queda”
Oração de devoção a Santa Face
Esta é a oração Flecha de Dourada pedida por Jesus a irmã Maria de São Pedro:
“Que o Santíssimo, Sacratíssimo, Adorável e incompreensível e inefável Nome de Deus seja sempre louvado, santificado, amado, adorado e glorificado, no Céu, na Terra e em todo o Universo, por todas as criaturas de Deus e pelo Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento do Altar. Amém.”
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