Santo Antão: ele resistiu ao demônio, mas cedeu a vaidade
Essa ideia de que Santo Antão não resistiu à vaidade de ser santo não faz parte da hagiografia do santo, mas sim de uma interpretação genial de Gustave Flaubert quando escreve as Tentações de Santo Antão. E é nessa interpretação que vamos focar nesse artigo, para falarmos um pouco sobre a vaidade e como ela está presente na vida moderna.
Vamos conhecer a história de Santo Antão?
Quem foi Santo Antão
Santo Antão do Deserto, também conhecido como Santo Antão do Egito, Santo Antão, o Grande, Santo Antão, o Eremita ou ainda O Pai de Todos os Monges, foi um santo cristão do nascido no Egito, no ano de 251. Antão, conforme revela sua hagiografia, travou uma batalha direta com o demônio durante toda sua vida até o dia de sua morte, quando já estava com 105 anos. Talvez ele seja o santo que mais foi tentado pelo diabo, uma espécie de escolhido das trevas.
Cristão fervoroso, com cerca de vinte anos de idade Antão resolveu seguir a palavra divina e doou todos os seus bens aos pobres. Sem nada, rumou ao deserto onde passou o resto de sua vida vivendo em uma gruta e jejuando em penitência e homenagem a Deus. Então, o diabo começa a perseguir Antão sem cessar. Jesus, o próprio filho de Deus, foi tentado durante 40 dias; Antão, por quase 80 décadas. Porém, Antão resistiu às tentações e não se deixou seduzir pelas tentadoras visões que se multiplicavam à sua volta.
A vida de Santo Antão e as suas tentações inspiraram numerosos artistas, como Hieronymus Bosch, Pieter Brueghel, Dali, Max Ernst, Matthias Grünewald, Diego Velázquez e Gustave Flaubert, que retrataram inúmeras vezes as tentações de Santo Antão.
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As tentações de Santo Antão
Foi o próprio Deus quem prometeu a Antão que seus combates se tornaram célebres em todo o mundo: “Porque aguentaste sem te renderes, serei sempre teu auxílio e te tornarei famoso em toda parte”. E assim de fato aconteceu.
O demônio tentou de tudo com Antão. Primeiro tratou de fazê-lo desertar da vida ascética, recordando-lhe sua propriedade, o cuidado da sua irmã, os apegos da parentela, o amor do dinheiro, o amor à glória, os inumeráveis prazeres da mesa e todas as demais coisas agradáveis da vida. Mas Antão se mantinha cego em seu propósito. Então, o demônio passou a atacá-lo fisicamente, de tal modo que até os que viam Antão podiam aperceber-se da luta que se travava entre os dois. Antão se apegou ainda mais às orações. Em resposta, o inimigo começou a tentá-lo incitando-o aos prazeres da carne. Mulheres nuas apareciam e dançavam nuas a sua volta, e Antão intensificava ainda mais as orações e os jejuns.
“se eu resisto à tentação é que ela não foi forte o suficiente”
E o diabo não desistiu. Apareceu então para Antão na forma de uma criatura negra, dizendo: “A muitos enganei e venci; mas agora que te ataquei a ti e a teus esforços como o fiz com tantos outros, mostrei-me demasiadamente fraco”. Antão então pergunta “Quem és tu que me falas assim?”, ao que a criatura responde “Sou o amante da fornicação. A minha missão é espreitar a juventude e seduzi-la; chamam-me o espírito de fornicação. A quantos eu enganei, decididos que estavam a cuidar de seus sentidos! A quantas pessoas castas seduzi com minhas lisonjas! Eu sou aquele por cuja causa o profeta censura os decaídos: “Foram enganados pelo espírito da fornicação” (Os 4, 12). Sim, fui eu que os levei à queda. Fui eu que tanto te molestei e tão amiúde fui vencido por ti”. Antão, ainda mais fortalecido, responde que não possui nenhum medo pois Deus estava com ele. Antão decide então se mudar para os sepulcros próximos da aldeia, pedindo aos seus familiares que lhe levasse pão de tempos em tempos. Entrou em uma das tumbas, fechou a porta e lá ficou completamente sozinho outra vez. E tudo começou novamente. Agora o diabo enviou uma legião de demônios, que açoitaram Antão levando-o quase a morte. No dia seguinte, um de seus familiares trazendo o pão encontra Antão em um estado tal, que pensou que ele estivesse morto. Então, ele foi levado até a igreja da aldeia para ser velado, porém, Santo Antão voltou a vida.
Antão ainda não tinha sido vencido. Assim que acordou, pediu que fosse levado imediatamente de volta às tumbas, onde se trancou novamente sozinho e invocou o retorno do demônios, para provar que não fora derrotado. E eles voltaram, enfurecidos. A batalha foi tão dura, que o lugar parecia estar sendo sacudido por um terremoto. A volta de Antão, surgiam bestas ferozes e répteis e todo o lugar se encheu de imagens fantasmagóricas de leões, ursos, leopardos, touros, serpentes, víboras, escorpiões e lobos. Então, do teto desceu um raio de luz e tudo acabou. Não haviam mais demônios e nem dor.
Gustave Flaubert: o demônio desistiu de Antão
Gustave Flaubert fez uma leitura sobre a hagiografia de Antão, na obra A tentações de Santo Antão. Eles fez questão de reforçar que Antão era um homem excepcional, praticamente um não humano, que resistiu a tudo. Porém, ele usa a história de Antão para falar da vaidade, um dos pecados mais cometidos pela humanidade. Aniquilar a vaidade é, em essência, grande parte da jornada de evolução espiritual.
E como ele faz essa relação? Dizendo que o demônio desistiu de Santo Antão.
Quando este estava com seus 105 anos, virou-lhe as costas e disse: “Você venceu! Pela primeira vez na história alguém foi mais forte que eu” e se retirou da caverna. Antão caiu de joelhos e agradeceu a Deus com uma oração simples, “Muito obrigado, agora me tornei um santo”. Era tudo o que o demônio precisava ouvir. Deu um sorriso largo e imediatamente voltou. Antão resistiu a tudo, menos a vaidade de ser santo.
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O pecado da vaidade e as redes sociais
A vaidade é um dos maiores males do mundo, e sem dúvida o maior pecado do séc. XXI. É o pecado do eu, da busca pelo poder e da veneração da própria imagem e personalidade perante a vida. E, em tempos de redes sociais, o pecado da vaidade perdeu a vergonha. Nunca exibimos tanto a nossa vaidade e cultuamos as nossas qualidades. Nunca ostentamos tanto.
“Deve-se deixar a vaidade aos que não têm outra coisa para exibir”
As redes sociais servem muito a vaidade. Tem pessoas que sequer conseguem mudar de tema: você entra no perfil e só vê selfies, uma sequência sem fim de “eu, eu, eu, eu de novo, eu outra vez”. É um narcisismo assustador. E com isso, vamos ficando cada vez mais egocêntricos, alienados do mundo e com certeza afastados da espiritualidade e do despertar da consciência. Estamos criando uma visão egocêntrica da sociedade, na qual o “eu” ocupa o primeiro lugar.
Quase todas as pessoas que se dão bem como influencers, sofrem de uma necessidade patológica de louvor, glamorizam a superficialidade e precisam impor suas próprias ideias, já que suas opiniões sobre seja lá o que for são absolutamente geniais e indispensáveis. E quanto mais vazio o conteúdo, mais seguidores. Precisam compartilhar constantemente cada minuto de suas vidas, para receber em troca uma atenção tão vazia quanto aquilo que expressam. 30 fatos sobre mim, adivinhe o que eu penso sobre isso, fazendo compras no mercado, brincadeira em que convidados respondem perguntas sobre mim, tours e mais tours a cada casa que entram ou hotel que se hospedam. Recebem cartinhas quilométricas e exibem com orgulho seus recebidos, especialmente os enviados pelos fãs, que chamam de “família”.
“As redes sociais deram voz aos imbecis”
E se esse comportamento estivesse restrito às redes, não seria tão ruim. Mas ele extrapola a internet, até porque ele é um reflexo de uma sociedade extremamente narcisista, que promove o narcisismo, a vaidade e o egoísmo. Nunca houve tanta falsidade e não é coincidência que vivemos a era das fake news. Não existem mais autoridades literárias, filosóficas ou políticas, pois o narciso de cada um diz que todas as opiniões importam. Então, as pessoas se privam do pensamento crítico para aderir à narrativas que confirmam o que elas já pensam, apesar de qualquer evidência que possa existir contra uma determinada ideia. Acreditam no que querem acreditar, e então o ego fica satisfeito. E vamos caminhando para um mundo cada vez mais distópico, onde movimentos de ódio encontram um terreno cada vez mais fértil para brotar. Pasme você, mas em pleno 2019 estamos vendo ressurgir a Ku Klux Klan e o renascimento de ideias nazistas através das organizações neonazistas. A xenofobia come solta e as nações se fecham cada vez mais para o mundo. O ego é burro mesmo, não tem jeito. E segue o baile.
“A vaidade é um princípio de corrupção”
Oração a Santo Antão
Rezar para Santo Antão vai te trazer forças para enfrentar as tentações e dificuldades da vida! Se você está passando por um momento em que precisa de força e resistência, aqui vai a oração de Santo Antão:
“Senhor Deus, que permitistes mesmo na solidão de uma gruta no deserto, Santo Antão fosse perturbado pelo demônio com violentas tentações, mas lhes deste forças para vencê-las, enviai-me do Céu o vosso socorro, porque eu vivo em um ambiente minado de tentações que me agridem pelo rádio, televisão, novelas, bailes, cinema, revistas, propagandas e maus companheiros. Santo Antão, ficai sempre a meu lado, vós que vencestes o demônio, me dareis força na tentação. Na hora da tentação, socorrei-me Santo Antão. Santo Antão, eremita que nunca faltais com o vosso socorro aos que vos invocam, rogai por nós. Amém.”
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