São Lúcifer: o santo que a Igreja Católica esconde
Calma, não se assuste. Esse artigo não vai falar de satanismo! Pelo contrário. Mas é muito curioso que exista um santo com esse nome, não? E existe.
“A minha mente é a minha igreja”
Em função da confusão que o nome traz, parece que nem mesmo a igreja católica gosta muito de falar neste bispo. Coitado, ficou esquecido no tempo e renegado pela fé que professava devido a enorme infelicidade de seu nome. Mas confusão não é o único motivo que leva a igreja a esconder o santo; se essa entidade fosse de fato divulgada, a igreja teria que admitir que o nome Lúcifer, na bíblia atrelado a toda história do mal e carregado de um sentido negativo, não passaria de um nome comum que seria inclusive de um santo da própria igreja.
Conheça São Lúcifer!
Quem foi Lúcifer, o santo?
Lúcifer ou Lúcifer Calaritano nasceu no séc. IV, na Itália. Foi consagrado bispo de Cagliari na Sardenha e ficou muito conhecido pela sua oposição ferrenha ao arianismo, uma visão cristológica antitrinitariana sustentada pelos seguidores de Ário, presbítero cristão de Alexandria nos tempos da Igreja primitiva. Ário negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus, concebendo Cristo como um ser pré-existente e criado, subordinado a Deus e dele filho. Para Ário e os arianistas, Jesus não era Deus e sim um homem que dele descendia, como todos os outros que andavam sobre a Terra. Portanto, para São Lúcifer, Jesus era Deus feito carne, o próprio criador manifesto na matéria.
No Concílio de Milão em 354, São Lúcifer defendeu Atanásio de Alexandria e se opôs a arianos poderosos, o que fez o imperador Constantino II, simpatizante dos arianos, confiná-lo por três dias no palácio. Durante seu confinamento, Lúcifer debateu tão veementemente com o imperador que ele acabou por ser banido, primeiro para a Palestina e, depois, para Tebas, no Egito. Porém, como ninguém vive para sempre, Constantino II falece e em seu lugar assume Juliano, o que beneficia muito Lúcifer. Pouco depois, em 362, ele é solto e inocentado pelo imperador. Entretanto, Lúcifer se mantinha fiel às críticas ao arianismo, o que continuou lhe causando problemas.
Pouco depois, ele se opôs duramente ao bispo Melécio de Antioquia, que passou a aceitar o credo de Nicéia. Embora Melécio tivesse o apoio de muitos proponentes da teologia de Nicéia em Antioquia, Lúcifer apoiou o partido Eustatiano. Eustácio de Antioquia, também chamado de o Eustácio, o Grande, foi o bispo de Antioquia entre 324 e 332. Ele se tornou bispo de Antioquia imediatamente antes do Primeiro Concílio de Nicéia e se destacou como um opositor zeloso contra o arianismo. Após isso, Lúcifer teria retornado à Cagliari onde, de acordo com relatos, teria morrido em 370 d.C.
Também conhecemos a história de São Lúcifer através dos escritos de Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo, que se referem aos seguidores de Lúcifer como luciferianos, uma divisão que surgiu no início do século V.
No calendário católico, a festa de São Lúcifer ocorre em 20 de maio. Em sua homenagem, foi construída uma capela na Catedral de Cagliari e Maria Josefina Luísa de Savóia, rainha consorte e esposa de Luís XVIII da França, está enterrada lá.
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Nominalismo: o grande inimigo de São Lúcifer
Infelizmente, o nominalismo atingiu em cheio São Lúcifer em função da associação de seu nome com a entidade suprema do mal, Satanás. Nominalismo é uma escola filosófica Idade Média Tardia que teve grande influência na história do pensamento humano. O nominalismo surgiu na sua forma mais radical no século XI por intermédio de Roscelino de Compiègne, filósofo e teólogo francês. Compiègne atribuía universalidade aos nomes, daí a origem do termo.
Nominalismo é um conceito denso de compreensão trabalhosa. Entretanto, podemos simplificar seu significado e colocar alguns exemplos que podem ajudar a compreender como esse pensamento provocou o esquecimento e ocultação de São Lúcifer. Pois bem, pensemos no peixe-boi. Segundo nominalismo, mesmo que ele não seja boi, ele deve ser obrigatoriamente peixe, já que seu nome afirma essa condição existencial. O que é um engano terrível, porque peixe-boi nem é peixe, nem é boi, mas sim um mamífero aquático da ordem Sirenia. Curiosamente, o peixe-boi na verdade é próximo dos elefantes, que pertencem a ordem Proboscidea. Mesmo não sendo um peixe, o peixe-boi tem aspecto de peixe, pois possui duas nadadeiras peitorais no lugar das patas dianteiras e uma grande nadadeira na região da cauda, no lugar das patas traseiras. Assim, segundo a tradição nominalista, peixe-boi é peixe ,pois, assim indica seu nome.
“Peixe-boi nem é peixe nem é boi”
Um outro exemplo é a grande confusão política em torno do nazismo, que, especialmente em tempos de polarização política no Brasil atribui esse momento histórico à esquerda, um engano mais terrível do que dizer que peixe-boi é peixe. Isso porque o partido de Hitler chamava-se Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, embora tivesse uma orientação absolutamente alinhada a extrema-direita. Tanto é que os socialistas e comunistas foram os primeiros a inaugurar as fornalhas onde eram queimados os prisioneiros dos campos de concentração. Esse tipo de afirmação chamou a atenção tanto da Alemanha quanto de Israel, que não se cansa de corrigir esse erro crasso através de notificações oficiais, mas que, frente ignorância de certos brasileiros somada ao ódio e paixão que depositam na política, acabam por ser inúteis. Vale lembrar que o Brasil é o único país de que se tem notícia onde o nazismo é atrelado às ideologias de esquerda, pelo fato do governo de Hitler ter sido mortal e totalmente autoritário. E o nominalismo tem tudo a ver com isso! Ora, se o partido de Hitler continha a palavra socialista e trabalhadores no nome, só pode ser de esquerda. Não há aula de história que dê conta de cabeças tão adoecidas.
“Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência”
Seguindo essa lógica, se o santo chama-se Lúcifer, trata-se de uma associação com o diabo. Movimentos a partir do século XIX deram a entender que luciferianos eram satanistas, logo, São Lúcifer foi escondido e seu nome evitado tanto pela igreja quanto pelos fiéis. Mas vale dizer que apesar de toda essa confusão, o culto a São Lúcifer não é proibido e nem a sua canonização corre risco de revisão.
Se você gostou de perceber a diferença entre significado e significante, aqui vai mais uma última informação que pode ser bastante indigesta: Lúcifer significa em latim “O Portador de Luz”.
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