Se apegar ou deixar ir – como saber o que fazer?
Nutrir o apego por objetos, pessoas e crenças pode nos fazer mal. Muito além da dependência que criamos, isso nos impede de crescer livremente. Saber a hora de deixar ir é uma forma de amadurecimento emocional. Se apegar ao que conhecemos e estamos habituados pode parecer fácil, mas, também é perigoso e pode nos levar à estagnação.
Por fim, se apegar a alguém ou a alguma coisa e transformar esta pessoa ou objeto em uma necessidade, traz consequências. Viver com apego e se rodear de coisas dispensáveis, ou crenças que nos fazem achar que somos genuinamente felizes, é dar importância excessiva ao ego e colocar em risco nosso próprio bem-estar. Nada que é externo a nós e nem mesmo uma pessoa, pode nos trazer a felicidade verdadeira.
Também não é nem um pouco saudável viver no passado. Pois, mesmo que a nostalgia nos inspire, viver de lembranças continua sendo uma forma de se apegar. Memórias não podem ser vistas e nem tocadas, estão em nossa mente e é muito perigoso se apegar a uma ideia se sustentando por ela, especialmente quando ela nos faz mal. Portanto, o apego causa mais dor do que deixar ir.
“O apego é a maior escravidão. Aquele que se apega, renunciou ao direito de liberdade”
As necessidades criadas pelo apego
Você sabe dizer o que te faz feliz e o que é indispensável em sua lista de coisas para ser feliz? Uma casa, um parceiro, trabalhar com o que gosta, viajar, ter filhos e uma infinidade de coisas podem estar na sua lista. Sejam quais forem suas prioridades, é importante refletir sobre isso. Você precisa mesmo alcançar todos esses sonhos para ser feliz? O seu desejo é sobre o sonho, o objeto e a pessoa ou a sensação causada por saber que essas coisas te pertencem?
Muitas vezes, sem perceber, criamos ideais de condições para atingirmos nosso conceito de felicidade. São geradas diversas expectativas que formam um mundo imaginário ideal e, por alguns instantes, acreditamos que ele é real. O grande problema é que nos engajamos tanto nisso que passamos a achar que precisamos alcança-lo.
“Quando eu ganhar melhor, me tornarei independente”, “Quando eu conseguir comprar um carro, vou poder fazer as coisas que gosto”, “Vou trabalhar o máximo possível para alcançar meus sonhos”, “Um dia vou encontrar a pessoa ideal e serei feliz com ela”. Estes são alguns exemplos das idealizações que criamos para projetar nossa felicidade.
Então, o que até certo ponto era um sonho, passa a ser uma realidade que almejamos alcançar. Assim, focamos todos os nossos esforços e, quando não conseguir obter o que desejamos, tudo desmorona e as coisas não ocorrem como imaginamos. O mal-estar toma conta de nosso interior, ao mesmo tempo que continuamos almejando o ideal de felicidade que criamos.
Quando não alcançamos o que havíamos aspirado, somos obrigados a enfrentar nossos pensamentos, que insistem que não somos capazes ou válidos e isso gera emoções como raiva, decepção, insegurança, frustração e rancor. Sem nos dar conta, fazemos nossa própria sabotagem a partir de uma série de ideais inventados.
As dores geradas pelo apego
Se apegar a objetos, sonhos e pessoas, deixando que nosso humor fique condicionado a isso, pode nos custar caro. O fato é que fomos ensinados a agir desta forma e criar idealizações. Somos afetados diariamente por propagandas publicitárias, nos mostrando como podemos ser plenos e felizes ao adquirir algo. Basta navegar na internet ou ligar a TV para ser bombardeado por isso.
Se apegar a bens materiais, a alguma pessoa, ou pior, a ideias de como as coisas poderiam ser, são apenas sementes para o sofrimento. Mas, por que? Porque nada é fixo, tudo está em processo de mudança. Ser rígidos com nós mesmos pode gerar paralisação, desgaste e constante mal-estar. Todos mudamos nossas ideias e objetivos, ou você acha que é o mesmo de cinco anos atrás? Com certeza não é.
Então, ignorar a efemeridade das coisas e se apegar a coisas materiais, ideias e pessoas, só vai gerar infelicidade. “Uma pessoa não pode se banhar no mesmo rio duas vezes”, dizia Heráclito, e ele estava coberto de razão. A água e nós não somos os mesmos.
Porém, isso não significa que devemos viver sem rumo e não nos importar com nada, mas que precisamos prestar atenção na maneira que nos relacionamos com os outros e com os bens materiais, principalmente como os representamos em nossa mente. Assim, poderemos identificar quando estamos no caminho de uma transformação ou apenas em busca de uma necessidade criada.
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Como saber a hora de parar de se apegar e deixar ir?
Faça uma análise dos seus apegos mentais e físicos e tente eliminar o que não te agrega valor ou tenha se tornado tóxico. A respeito de coisas materiais, livre-se do que não te serve mais e só mantenha o que realmente possui um valor sentimental, se certificando que são poucas coisas. Quando se trata de um sentimento por alguém, ou uma lembrança de um momento ou período, avalie se isso te faz bem, se essa pessoa te acrescenta e se essa lembrança te faz feliz.
Recuperar, pintar e reabilitar objetos é uma ótima opção. Se tiver herdado alguma coisa, respeite a sua origem, mas faça com que seja usual para você. Objetos e espaços servem para serem desfrutados.
Evite manter os relacionamentos conflituosos, com altos e baixos, paixões avassaladoras e dramáticas. Perceba se essa relação se tornou um vício e se pode estar sendo algo tóxico. Caso conclua que sim, deixe-a ir.
É um verdadeiro desafio manter o que realmente importa e deixar o resto ir. Mas, se apegar a coisas e relacionamentos que não funcionam mais bloqueia o fluxo da sua vida e pode te afetar mental e emocionalmente. É difícil evoluir quando as coisas estão nos pesando.
Saber deixar ir traz felicidade
Quem fica apegado ao passado se torna escravo de seus pensamentos, sua alma, sua mente e seu coração. O que aconteceu ontem não pode ser apagado, editado e nem ao menos conseguimos esquecer facilmente. Não é possível mudar as pessoas, nem fazer com que sejam como desejamos. Existem aspectos da vida que para serem superados é preciso primeiro aceita-los.
Amar também é aprender a deixar ir, pois muitas vezes o próprio amor causa grande sofrimento. Apenas quando aceitamos que determinadas coisas não estão destinadas a ser e nos permitirmos a liberdade, podemos encontrar novos motivos para sermos felizes.
Deixar ir também é deixar vir, pois ninguém vive este mundo sabendo sobre tudo, nem carregando consigo um manual das decisões ideais, aquelas que nunca darão errado. A vida é uma experiência na qual concluímos, iniciamos, nos arriscamos e nos enganamos também.
Portanto, não se chateie, não fique bravo, nem encha seu coração e sua mente de rancor. Deixar ir é um ato que deve ser feito pacificamente e sem raiva. Só assim, nos permitimos ser livres, descobrindo que aos poucos a dor vai ficar muito menor.
Para deixar ir é necessário aceitar e aprender. Aceite que todas as vivências valeram a pena, porque quem nega isso, não se cura e nem aprende. É preciso aceitar o que aconteceu e tentar entender que deixar ir é uma forma de crescimento. Um dia tudo vai fazer sentido e a dor de agora, o caos e a incerteza por deixar ir algo que nos definia serão transformadores. O amanhã reserva coisas melhores e tudo acontece por alguma razão.
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