Qual o significado espiritual da saudade?
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Quem nunca sentiu saudade de algo, que atire a primeira pedra. Infância, férias especiais, uma casa antiga, o almoço de domingo na casa dos avós… Existem certas memórias que ignoram o tempo e permanecem vivas em nós, marcadas em nossa alma. E é natural sentir saudade momentos que já passaram. Mas afinal, qual o significado espiritual da saudade?
Ser saudosista é mais do que recordar momentos com amor. E esse saudosismo pode ter uma origem espiritual, com um significado que vai muito além da nossa vida física. Será que é esse o seu caso? Do que você sente saudade?
Qual o significado espiritual da saudade?
Quem nasceu no Brasil tem o privilégio de conseguir expressar a nostalgia de tempos antigos através de uma palavra: saudade. Ela é, sem dúvida, a palavra mais bonita da língua portuguesa e carrega consigo a dimensão da alma humana. Na definição do Dicionário Aurélio, saudade significa: “lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las”.
“Saudade é a presença dos ausentes”
É através da saudade que visitamos nosso passado, que podemos estar de novo com aqueles que amamos e já se foram. Sentir saudade é viajar no tempo! Ela faz parte de nós. Porém, existe uma saudade que vai além desta vida: é aquela saudade de pessoas que não conhecemos, de momentos que não temos consciência de termos vivido, de lugares por onde nunca passamos, de um lar que não sabemos bem onde fica. Ela saudade não tem data, não tem nome, não tem ligação com a nossa vida atual e pode trazer sofrimento, pois, sem saber do que estamos sentindo falta, ficamos nos sentindo meio loucos. Qual o significado espiritual da saudade? É o que vamos descobrir.
Quem somos nós?
Essa pergunta é complexa e ao longo da história humana, muitos pensadores tentaram responder a essa pergunta. Até o momento, permanecemos sem uma resposta concreta. Contudo, há uma certeza: não somos o nosso corpo, não somos o nosso cérebro. Somos mais do que isso, somos “a parte” que deixa o corpo quando a morte chega. Logo, nossa casa não é a Terra e essa vida que levamos agora não é a única vida que tivemos.
Perceber isso já é suficiente para entendermos que, na maior parte das vezes, já nascemos com saudade. Deixamos muita coisa para trás ao embarcar nessa aventura que chamamos de vida, e nem sempre fazemos isso de bom grado. Aliás, a vida na matéria é tão densa, que são poucos os espíritos que ficam ansiosos para voltar. A maior parte das consciências gostaria de evoluir sem essa prova tão difícil, mas, a verdade é que não tem jeito. Quem se inscreve nesse projeto, nessa grande escola que chamamos de mundo, deve ir até o final. E nesse processo, deixamos muita coisa para trás… Pessoas que amamos, o lugar intermediário onde “vivemos”, as sensações tão expandidas de amor e paz que sentíamos. Quem não sentiria saudade?
Esse vazio existencial que castiga a humanidade desde o início dos tempos começa com quem somos nós. Ao abandonar outras dimensões para encarnar trazemos conosco essas sensações, essa saudade que não sabemos bem do que. Nós, encarnados, não sabemos, mas nossa alma sabe. Ah, como sabe…
A visão da ciência
No caso da saudade, é curioso ver como a ciência tem conclusões que conversam muito com o mundo espiritual e o papel que a saudade tem em nossas vidas. Em 2018, por exemplo, foi publicado um denso estudo sobre o tema, pela Universidade de Southampton, na Inglaterra. Esse estudo derrubou a ideia de quem sente saudade está preso ao passado. Pelo contrário! É a saudade que aumenta nossa vitalidade e nos deixa mais preparados para lidar com o presente e com o futuro. É a saudade que nos faz sentir conectados com algo maior do que nós, trazendo a sensação de continuidade.
No estudo, pesquisadores mostraram aos voluntários músicas antigas com letras sentimentais e pediram que eles se lembrassem de memórias queridas para entender como se sentiam logo depois de passar pela onda de saudosismo. Após a experiência, um dos principais sentimentos relatados foi o de “autocontinuidade”. Essa sensação era avaliada por um questionário com frases como “me sinto conectado com meu passado” e “importantes aspectos da minha personalidade continuam os mesmos ao longo do tempo”. Quando olhamos para o passado, temos uma compreensão melhor de quem somos. Esse é o ponto em que a ciência encontra a espiritualidade: a saudade diz muito sobre nós. Isso porque eles só consideram como passado as experiências pregressas dessa vida, então, imagina o que eles descobririam se percebessem que, essa saudade que nos revela quem somos, transcende a nossa própria existência.
“Saudade é a vontade de outra vez”
Segundo um dos pesquisadores, a saudade é também um mecanismo de defesa. É quando enfrentamos dificuldades ou experimentamos sentimentos depressivos, de solidão, que a saudade aflora com ainda mais força. Lembrar de tempos melhores cria sensações positivas que ajudam a romper o aspecto negativo da solidão, pois, coloca o passado em perspectiva e nos dá um propósito para continuar. A saudade nos diz: você foi amado, você foi feliz, você foi jovem, você foi saudável, você foi cuidado. E mostra, acima de tudo, que existem motivos de sobra para seguirmos o nosso caminho até que aquilo que sentimos falta se torne realidade novamente. E vai. Seja na vida física ou espiritual, nada permanece imutável. A vida é feita de constantes mudanças e, por pior que esteja sua vida agora, por mais que a saudade machuque seu coração, tudo pode mudar a qualquer momento.
Tudo, eventualmente, melhora. O que não podemos é desistir! Até mesmo a morte, tão temida por nós, traz paz e o reencontro com essa saudade não sabemos de que. No fim, tudo fica bem e a saudade é o que nos conecta com nós mesmos. Viva a saudade!
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