Simplicidade, por Gabhishak
Um conto zen, para começar:
“Um praticante de meditação perguntou a seu mestre, o qual era considerado muito sábio:
‘Que tipos de pessoas precisam de aperfeiçoamento pessoal?
O mestre respondeu: ‘Pessoas como eu’.
Espantado, o aluno, contestou:
‘Por que um grande mestre como o senhor precisaria de aperfeiçoamento?’
O que você chama de aperfeiçoamento não é outra coisa senão trocar de roupa e tomar sua sopa, ponderou o mestre zen.
Confuso, o praticante respondeu:
Sempre pensei que fosse algo mais profundo.
O que você acha que faço a cada dia?, retrucou o mestre. Meu aperfeiçoamento está no fazer com cuidado e honestidade os atos comuns do cotidiano. Não existe nada mais profundo do que isso”.
Nada extraordinário precisa ser feito.
O segredo, segundo enfatizado por muitos mestres, está no ordinário, no simples, no comum.
Não há necessidade nenhuma de aperfeiçoamento. Um dos grandes ensinamentos do zen reside nessa singeleza, na simplicidade das coisas.
O mestre do conto acima não precisou fazer cursos e workshops. Ele não realizou treinamentos para receber algum certificado. Nada disso faz dele um verdadeiro professor. Sua mensagem é bem mais objetiva: faça tudo com cuidado e honestidade.
O que isso significa? Faça o que tiver que fazer: arrumar a cama, cozinhar, lavar a roupa, assistir televisão, mas faça tudo isso com atenção; arrisco dizer, com ‘absoluta’ presença.
O grande ensinamento, portanto, é: esteja atento! Atenção é o segredo. Não há prática mais poderosa que essa. Tal é a prática suprema. Nenhum outro método de meditação será necessário se esse conto for bem compreendido.
A situação atual coloca todos no mesmo barco. Como disse Satyaprem em algum momento, ‘o outro sou eu’, ou, ‘o outro é você’. Cada um precisa fazer sua parte para evitar ainda mais dor e sofrimento.
É por isso que o texto sugere que voltemos o olhar para as coisas simples. Uma volta para casa!
Aproveitemos, então, esse período de recolhimento para praticar a atenção, o cuidado, a honestidade e a compassividade. Ficar em casa é agir com honestidade. Escutar a ciência, os especialistas e médicos é ter cuidado. Politizar o assunto, ao revés, é assumir um grande risco não apenas para si, mas também para o outro, que, em verdade, é você.
Agora, uma proposta de meditação, seguindo a fórmula da atenção e simplicidade.
Ao tomar banho, tome banho!
TOMAR banho com letras maiúsculas significa colocar toda sua atenção nas sensações percebidas. O barulho do chuveiro, o leve toque da água na cabeça, nos ombros, descendo pelas costas, pernas e pés. Os cheiros e a temperatura. A maciez e o aroma do sabonete, do shampoo. Esteja absorto no banho, no banhar-se. Desloque toda sua atenção para os sentidos; estimule os sentidos, use-os em totalidade, aproveite e desfrute.
Lembre-se, o grande ensinamento consiste em fazer as coisas com atenção.
O que vale para o banho, pode ser replicado ao escovar os dentes, no almoço, ouvindo música. Tantas coisas acontecem em uma simples refeição. São tantas as cores e sabores que seria um imenso desperdício perder essa imensa oportunidade que a vida oferece.
E lembre-se, sempre que a mente interferir na experiência, quando notar que os pensamentos te distraem, traga, com paciência e calma, a atenção de volta ao momento presente, àquilo que estás fazendo.
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