Síndrome da impostora: entenda como funciona e o que fazer ao identificá-la
“O que pode sabotar seus planos é o conceito que você faz de si mesmo”
Muitas pessoas creem que chegaram a determinado cargo por sorte, não acreditam em sua competência profissional e se autossabotam em diferentes situações. Esses podem ser alguns dos sintomas da síndrome da impostora, uma condição que afeta especialmente mulheres, mas também pode atingir pessoas do sexo masculino. De acordo com especialistas, mesmo não havendo estudos conclusivos sobre a síndrome, o fato de ser mais comum entre o sexo feminino indica questões sociais como a entrada tardia das mulheres no mercado de trabalho e a desigualdade ainda existente em relação a posições de chefia e salários.
Quando os homens são afetados por essa síndrome, normalmente ocorre no meio acadêmico, enquanto para a mulher é mais frequente no âmbito profissional. Porém, para ambos os sexos, a síndrome do impostor pode surgir a partir de diversos fatores, ligados a situações estressantes, frustrações e até humilhações vividas. Além dos âmbitos acadêmico e profissional, a síndrome também pode afetar as relações afetivas. Entenda mais sobre a síndrome da impostora e saiba o que fazer ao identificá-la.
Afinal, o que define a síndrome da impostora?
De acordo com o sociólogo e doutorando em em estudos Interdisciplinares de Gênero da UAM (Universidade Autônoma de Madrid), Jose Vela, a síndrome da impostora se trata de uma autopercepção na qual a pessoa se considera menos qualificada para algum cargo, função ou desempenho com seus companheiros. A baixa autoestima e a cobrança excessiva de si mesma são alguns dos fatores que levam a desenvolver a síndrome da impostora. Porém, acredita-se que essa não é uma questão individual, mas sim um reflexo de um problema social. A forma como homens e mulheres são educados para desempenhar papéis distintos, cria um padrão cultural para que as mulheres sejam as mais afetadas pela síndrome da impostora.
Como consequência da síndrome, a pessoa tenta compensar o que entende como falta de capacidade com mais esforço e horas de trabalho. Quando um trabalho é feito de forma satisfatória, essas pessoas acreditam que o resultado positivo foi por seu esforço extra e não graças à sua competência. Isso faz com que a síndrome de impostora seja reforçada.
No caso dos homens, a síndrome costuma ocorrer com grupos que precisam demonstrar seu valor para a sociedade como famílias monoparentais ou homoparentais. Essas pessoas costumam se esforçar para educar seus filhos tão bem ou melhor do que casais heterossexuais. Nos dois casos, os indivíduos se sentem questionados pelo modelo padrão da sociedade, que seria a forma “correta”de fazer as coisas. Isso também ocorre com mulheres com cargos de chefia que trabalham rodeadas de homens.
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Essa falta de segurança vem de onde?
A síndrome da impostora não surge da noite para o dia, ela é desenvolvida a partir de uma série de condições ao longo da vida. Uma estatística mostra que, apesar das meninas concluírem o segundo grau com notas melhores do que os meninos em Ciências e Matemática, a maior parte das pessoas que optam por estudar Engenharia ou outras carreiras técnicas são do sexo masculino. A maior parte das mulheres escolhe carreiras mais humanas, que muitas vezes têm baixa perspectiva de trabalho.
A doutora em Ciências Humanas e especialista em Gênero e Comunicação, Carol Herrera, acredita que a cultura patriarcal em que vivemos ensina que as habilidades femininas não têm tanta importância quanto as masculinas. Desta forma, trabalhos como cuidadora ou serviços domésticos podem não ser bem pagos ou não ter valor social, apesar de serem imprescindíveis. Para a especialista, a síndrome da impostora está ligada a uma ideia de que os homens fazem as coisas melhor. Estudos mostram que meninas a partir dos 5 anos já têm a sensação de que pertencem a um grupo inferior. Elas acreditam que as mulheres podem fazer coisas boas, mas são os homens quem se destacam.
De acordo com a educadora em Ciências Sociais e diretora da Agência de Comunicação e Gênero, Isabel Mastrodomenico, na escola é reforçada a falta de autoestima e confiança das meninas, o que prejudica sua trajetória. A especialista afirma que isso não ocorre apenas na escola básica, mas até na pós-graduação, onde mulheres que possuem doutorado ainda se colocam em dúvida a respeito de sua formação e carreira por sentiram que lhes falta algo que nunca será questionado de seus colegas homens de profissão.
A síndrome da impostora e a autossabotagem
Um dos comportamentos mais comuns de quem sofre com a síndrome da impostora é a autossabotagem. É comum que essas pessoas adiem ou até recusem promoções de trabalho por não acreditarem que são capazes de exercer determinada função ou cargo. Isso não quer dizer que a procrastinação e autossabotagem sempre estarão ligadas à síndrome. Muitas vezes também ocorrem em situações isoladas e não significam que você de fato sofre deste problema. Deve-se levar em conta tais episódios e analisar se você recusa promoções, tarefas, reuniões ou outras tarefas com frequência. Também é importante observar se você valoriza as conquistas adquiridas ao longo da vida por mérito próprio, seja no âmbito profissional ou pessoal. Estes são alguns sinais de alerta para procurar um tratamento. Veja mais alguns no próximo tópico.
Os sintomas comuns da síndrome de impostora
- Desmerecer suas conquistas e dizer que foi sorte;
- Não se sentir pertencente a um trabalho, lugar ou relacionamento;
- Procrastinar constantemente;
- Fugir de determinadas situações que acha que não tem capacidade;
- Não lidar bem com frustrações e erros;
- Dificuldade para realizar atividades cotidianas.
Como a síndrome pode afetar as relações afetivas?
Muito além do âmbito profissional, a síndrome da impostora pode afetar casamentos, namoros e até amizades. Devido às crenças limitantes e por medo das frustrações, a pessoa pode terminar relações se julgando inferior ao parceiro. Ela acredita que é apenas um passatempo para o outro e não enxerga suas próprias qualidades que podem ter atraído alguém. A auto estima baixa pode chegar ao ponto da pessoa pedir o divórcio, por se julgar inferior ao outro.
Existe tratamento para a síndrome de impostora?
Nem todas as pessoas vão precisar fazer terapia para lidar com essa síndrome. Porém, quando a situação começa a fugir do controle, é essencial buscar ajuda profissional. O tratamento costuma ser feito através da psicoterapia.
Avalie se as situações de autossabotagem acontecem com frequência em sua vida e se isso está te atrapalhando em seu dia a dia. Caso ainda não sinta que deve procurar um psicólogo ou psiquiatra, tente se abrir com alguém que confia para entender se é apenas uma impressão ou se realmente você precisa de ajuda profissional.
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