Tao: a arte de deixar a vida fluir
Se você busca um caminho para o crescimento espiritual, a filosofia oriental é extremamente rica e oferece inúmeras possibilidades, todas elas de elevado nível espiritual. Dentre esses ensinamentos, temos o Tao, que significa caminho em chinês.
“O Tao é uma constante não-ação. Que nada deixa por realizar”
O Tao faz parte de várias filosofias e religiões chinesas, mas é a base filosófica principalmente do Taoismo, uma tradição chinesa com aproximadamente 5 mil anos de existência. Ele enfatiza a vida em harmonia com o Tao, que significa, como já vimos, “caminho”, “via” ou “princípio”, ou seja, a dinâmica e a força por trás de tudo que existe.
Quando nos alinhamos ao Tao é que podemos encontrar o equilíbrio e evoluir espiritualmente.
O princípio que rege o mundo
Tao é o que há de mais profundo e misterioso na realidade e que faz com que tudo seja como é. É o conjunto indiferenciado de tudo o que existe, mas também o princípio supremo que gera e está na origem do seu “devir”, ou seja, é também o seu “caminhar”. Dentro de uma narrativa mais ocidentalizada, podemos fazer uma analogia entre Tao e vontade divina.
“Quando você chegar lá, então os pensamentos tornar-se-ão calmos mesmo sem os ter acalmados, o sossego e o discernimento surgirão sem ser produzidos, a mente do buddha aparecerá sem ser revelada. Pode-se tentar compará-la ao cosmos ou à luz de milhares de sóis que estão além do céus da Terra”
Compreender o Tao implica se deixar levar pelo caminho, se adaptar e aceitar as mudanças que ocorrem durante o caminhar e não se preocupar com o futuro. O Tao não acredita em mudanças repentinas e em nada que é gerido pela impulsividade. Caminhar conforme o Tao é respeitar o ritmo da existência, permitindo que as coisas aconteçam por elas mesmas, sem forçar o seu caminho, sem forçar o curso do rio. A pressa não cabe no Tao, pois tudo que deve acontecer acontece na hora exata e qualquer forma de impaciência significa sair do Tao.
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Viver de acordo com o Tao
O ego, os desejos e as vontades também estão fora do Tao. Mesmo que esse desejo seja o de iluminação, conhecimento e sabedoria, por si só esse desejo se torna um obstáculo e pode impedir que a iluminação chegue, pois não se pode desejar o que é natural. Ou seja, o que está no caminho, está. O desejo distancia você do Tao, a medida que cria uma artificialidade, um propósito e uma direção para a jornada.
A busca por Deus e pela verdade pode transformar o percurso e te afastar justamente daquilo que você pretende alcançar. O seu valor, o seu vazio, a sua receptividade, a sua passividade tornam isto possível; não a sua pressa, não a sua correria, não a sua vontade. Lembre-se: a verdade não pode ser conquistada. É preciso entregar-se à verdade, é preciso ser conquistado pela verdade, vivenciar a verdade.
Tao é o que há de mais profundo e misterioso na realidade e tem relação como fluxo e essência da Vida. É tudo que existe.É o Caminho, o caminhante e a caminhada. É o que faz com que tudo seja como é, nos ensinando a viver o que “é”, seja como for. Não devemos fugir, desviar, questionar, tentar subjugar. É através da aceitação e da adaptação que o Tao pode existir. Ele exige paciência e confiança, virtudes que, apesar de muito simples, são extremamente difíceis de praticar, especialmente na vida moderna e nos valores materiais que ela prega.
Wu wei: a arte da não ação
O Wu wei é o conceito fundamental do taoísmo. Ele se traduz em “não ação”. Trata-se de um princípio no qual se indica que a melhor maneira de enfrentar uma situação conflituosa é o não agir, deixar que fluir. Wu Wei é uma ação livre de dualidade, algo como deixar a energia vital fluir de dentro de você e deixar-se fluir com ela; algo como agir a partir desse fluxo natural e assistir à sua atividade. Tudo é energia e essa energia está em movimento e possui um propósito e uma direção. Em última análise, Wu Wei seria assistir à energia brotar dentro de si e deixar-se ir com ela, nunca contra.
Por isso ele não só é um conceito muito mal compreendido, como contrária aos valores da modernidade. Vivemos na eterna correria, escravos da teologia da produtividade, atolados de atividades. Time is money! Essa cultura é tão forte, que as pessoas não conseguem mais parar, desconectar, estarem sozinhas. Quem tenta parar, mesmo que por um pequeno período de tempo, se sente engolido pela sociedade.
Já a arte da não ação oriental nos propõe uma vida muito mais simples e tranquila, desapegada de tudo aquilo que nos gera sofrimento, especialmente os desejos. Wu wei nos ensina a valorizar o que somos e o que temos, ao invés de nos lamentarmos pelo que não somos ou não possuímos. É muito próximo da máxima “não tenho tudo que amo, mas amo tudo o que tenho”.
O Wu wei sustenta o Tao na medida em que, através do desapego e da simplicidade, nos condiciona a aceitar as coisas como são e nunca resistir ao curso dos acontecimentos, seja eles quais forem. E, para isso, além dos desejos, devemos evitar qualquer tipo de excesso. Tudo o que foge ao equilíbrio natural, gera sofrimento e nos afasta da essência divina, do Tao, do próprio equilíbrio.
Assim, temos quatro princípios centrais que traduzem e orientam o Wu wei:
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Aceitar o fato de que os problemas são uma criação de nós mesmos
É a nossa maneira de encarar a vida que cria a maior parte dos nossos problemas. Nossos desejos, nosso ego e nossas emoções dificultam muito a vida e a postura que assumimos perante ela, especialmente porque tendemos a fazer prevalecer a nossa vontade e nos recusamos a praticar a aceitação.
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Não fazer esforços mentais para resolver os problemas
O que não tem remédio, remediado está. Todo esforço que direcionamos para contrariar ou tentar solucionar determinadas situações, podem se voltar contra nós. Isso não significa que podemos, simplesmente, nos sentar no sofá enquanto a vida passa em frente aos nossos olhos. É diferente. É construir uma sabedoria que consiga diferenciar aquilo que devemos fazer em prol do nosso próprio crescimento, e aquilo que não temos o controle nem o poder de alterar.
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Aprender a apreciar o fluxo natural das coisas
A vida tem um curso natural e nem tudo está sob nosso controle. Quanto mais tentamos exercer esse controle, mais ele é tirado de nós. Parece simples, e, ao mesmo tempo, é complicado encontrar esse equilíbrio. Por isso as artes ocidentais são tão elevadas e sublimes.
Adotar uma atitude de observação frente aos acontecimentos, sem pensar que devemos intervir, pode nos exigir muito, mas é um grande exercício espiritual.
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Deixar que a mente flua
Quando tentamos dar uma direção, pensar demais, racionalizar tudo, estamos indo contra o fluxo natural das coisas e isso nos gera muita angústia, pois nem sempre encontramos as respostas que procuramos. Mais uma vez, Wu wei exige que a gente permita que o fluxo dos acontecimentos corra de forma natural. A grande dificuldade em se vivenciar uma ação sem dualidade vem de nossa mente que a tudo julga; é difícil para nós só observar, sem interferir a partir de um julgamento do que é bom ou do que é ruim. Wu Wei é uma ação não contaminada pelas ideias que temos de bom e ruim, certo e errado, melhor e pior. É a compreensão de que o que é, apenas É.
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