O tempo está acelerado ou é só uma impressão?
Não sei para você, mas para mim a impressão de que o último ano passou e eu nem percebi é muito forte. Quando criança, lembro-me de esperar uma eternidade até setembro, mês do meu aniversário, e depois de mais um período infinito até o Natal e a época doce da visita do Papai Noel e daquela mesa lotada de comidas deliciosas, amor e família. A sensação de passagem do tempo era muito lenta e parece que conforme vamos crescendo ela vai, de maneira geral, acelerando.
Temos também a consciência de que quando nos divertimos especialmente em boa companhia, o tempo passa mais depressa do que gostaríamos. Enquanto que, quando estamos entediados ou depressivos, novamente a sensação de dias eternos se faz presente.
Mas será que o tempo é uma realidade física? Será que ele existe mesmo ou depende dos estímulos psíquicos que recebemos? Veremos a seguir.
O tempo na história
Na antiguidade as primeiras noções de tempo foram possíveis pela posição dos astros no céu e na alternância entre dia e noite. O tempo era medido pelos ciclos solares e lunares, onde um sol significava um dia e duas luas significavam aproximadamente 60 dias, sugerindo uma ideia de passagem de tempo através desse “movimento” que percebemos no céu e criando, posteriormente, os calendários para orientação temporal. Assim, a concepção de tempo como conhecemos hoje é uma construção histórica que evoluiu dos ciclos dos astros para medidas numéricas baseadas nesses ciclos. Uma mera convenção.
Mas, para além disso, encontramos um grande problema quando tentamos definir o que seria então passado, presente e futuro. Nas filosofias e religiões, a ideia de eternidade é muito mais presente do que o conceito de tempo transitório, finito, onde o processo de passagem nos afeta e nos leva a finitude, ao desaparecimento. A vida não é eterna, ela tem começo, meio e fim, levando a ideia de que a vida é um processo de existir compreendido entre o nascimento e a morte, em um fluxo perpétuo de transformação.
“O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel”
Na filosofia, muitos pensadores se ocuparam da discussão sobre a percepção do tempo, sendo um tema muito debatido ao longo da história. Kant por exemplo, nega a realidade do tempo e para ele o tempo é uma noção determinada e característica do nosso modo humano de receber informações através dos sentidos. Já a física contemporânea criou todo um debate acerca da direção do tempo, que tem origem na incompatibilidade entre as leis da natureza, reversíveis no tempo, e nossa experiência do tempo como algo irreversível. Entretanto, não experimentamos o tempo como algo reversível: temos lembranças do passado e não do futuro e admitimos que o passado é imutável enquanto o futuro está aberto. Definir o que é o tempo então é bem complicado, especialmente quando pensamos no que significa espaço e tempo, se eles existem independentes um do outro e mais, se existem além da mente que os concebe.
O que temos certeza é a construção histórica do tempo, ou seja, a organização dessas percepções de passagem temporal de acordo com os sentidos e a cultura. No nosso contexto por exemplo, o marco inicial da história é o nascimento de Cristo. O cristianismo tornou-se algo tão importante que nossa maneira de marcar a passagem do tempo histórico inicia-se a partir da existência de Jesus. Claro que admitimos como real fatos e acontecimentos antes de Cristo, mas a presença da religião na história é tão forte que elas se fundiram de maneira irreversível.
Calendários: nem todas as nações estão em 2022
Justamente por ser uma construção histórica, os calendários e a maneiras de perceber a passagem do tempo não são idênticas em todas as culturas. Atualmente temos 6 tipos de calendários diferentes em vigor, que apresentam localizações temporais distintas:
Calendário Gregoriano
Instituído pelo Papa Gregório XIII em fevereiro de 1582, é o calendário aceito pela maior parte dos países e indica o ano de 2022. O marco inicial é o nascimento de Jesus, no ano 0 a.C. É um calendário solar, ou seja, leva em consideração o ciclo solar e por isso temos o chamado ano bissexto, pois na realidade o ciclo solar leva 365 e 6 horas para se completar. Assim, estas horas que “sobram” são acumuladas por quatro anos até serem suficientes para acrescentar um dia num ano, o chamado ano bissexto, que tem 366 dias.
Calendário Juliano
Foi implementado pelo imperador romano Caio Júlio César, em 46 a.C. É basicamente o calendário gregoriano com algumas alterações, que o deixam sempre 13 dias atrás do Gregoriano. Ainda é usado por alguns cristãos ortodoxos.
Calendário Chinês
O Calendário Chinês é lunissolar, ou seja, leva em consideração os ciclos do Sol e da Lua. É o mais antigo registro cronológico da história, tendo começado nos primeiros anos de governo do imperador Huang Di, entre 2697 a.C. a 2597 a.C. Além de anos o calendário também considera ciclos e cada ciclo tem doze anos, que recebem os nomes dos animais do horóscopo chinês. O ano novo chinês é comemorado em fevereiro este ano é o ano do tigre, que representa para nós o ano de 4719.
Calendário Judaico
Estabelecido pelos hebreus na época do êxodo, aproximadamente no ano 1447 a.C, é também lunissolar. É usado pelo povo de Israel há mais de três milênios para a determinação de datas e atualmente está no ano 5782.
Calendário Islâmico
Também é conhecido como calendário hegírico, por ter seu marco inicial na Hégira, é um calendário lunar que inicia a contagem a partir da fuga do profeta Maomé da cidade de Meca no ano de 622 d.C. Os muçulmanos ortodoxos utilizam esse calendário que, atualmente para nós, encontra-se no ano 1443.
Calendário Juche
É utilizado somente na Coréia do Norte. Segue a ideologia juche, uma mistura de marxismo, leninismo e kimilsunismo e sua contagem cronológica começou em 1912, ano do nascimento de Kim Il-Sung, cultuado como uma divindade no país. Atualmente, o calendário juche está no ano 111.
Einstein, a relatividade e a viagem no tempo
Einstein com sua genialidade contribuiu muito para um aprofundamento maior no conceito científico de tempo. Com a Teoria da Relatividade, ele atesta que o tempo não é absoluto. Ou seja, um segundo na Terra não é equivalente a um segundo em qualquer parte do universo. Einstein desconstruiu uma concepção cotidiana e até mesmo científica de que o tempo é um só, dando a ideia de que ele não ocorre da mesma forma para todos e depende da perspectiva, isto é, sua passagem é afetada diretamente pelo movimento de um indivíduo no espaço e seu referencial.
Esse conceito abre algumas portas para a possibilidade de viagem no tempo. Graças a dilatação temporal e a relatividade, podemos dizer que o astronauta russo Sergei Krikalev viajou, de fato, no tempo. Ele ficou em órbita durante 803 dias 9 horas e 39 minutos e, durante essa viagem, levou com ele um relógio atômico que estava sincronizado com outro relógio, sendo que este segundo, estava na Terra.
Quanto o astronauta retornou de sua viagem, os marcadores não batiam e seu relógio tinha 0,2 segundos de antecipação comparado ou que ficou na Terra, ou seja, ele viajou para o futuro. Isso torna Sergei Krivalev o primeiro homem a viajar no tempo de forma cientificamente comprovada.
A ciência já trabalha com essa probabilidade, entretanto, só considera possível o deslocamento para o futuro em três situações distintas: embarcando em uma viagem próxima à velocidade da luz, utilizando um buraco de minhoca ou sobrevoando uma região onde a força da gravidade seja extrema, como uma estrela de nêutrons ou um buraco negro. Stephen Hawking concorda com essas três afirmações, entretanto, afirma que muito provavelmente as viagens no tempo não existam, já que não estamos recebendo viajantes do futuro.
“A prova de que no futuro não existirão viagens no tempo, é que não estamos sendo visitados pelos viajantes do futuro”
O tempo no universo astral
Apesar dos esforços da ciência e filosofia em determinar o que é o tempo, obviamente podemos dizer que ele não existe. Deus está fora do tempo. A pergunta “o que existia antes de tudo?” deixa isso muito claro, pois o antes já pressupõe a ideia de passagem temporal, mas que não existe fora da 3 dimensão, na matéria. Tempo é uma construção humana relativa, inclusive a marcação de tempo também é, e se relaciona muito mais com questões culturais do que ciência ou espiritualidade como vimos com os diferentes calendários.
“A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente”
Não há tempo no universo espiritual. Não são possíveis relógios, dias e noites, anos. Tempo só existe na matéria e é simplesmente uma convenção humana com origem na sobrevivência, na necessidade de marcar as estações do ano e conseguir, assim, determinar quando plantar, quando colher e sobreviver. Mas então, como as entidades espirituais falam em tempo, como por exemplo a Data Limite e os anos que foram concedidos à Terra para regeneração?
Muito simples responder a esse questionamento. Ocorre que, para que seja possível estabelecer uma equivalência de tempo na matéria, essas entidades precisam usar a nossa noção de tempo para que possamos compreender os eventos em nossa linguagem e raciocínio, em nossas medidas. O tempo é medido então por rotações terrestres e a Data Limite é um exemplo dessa equivalência entre o que pode vir a acontecer em termos espirituais e o tempo da forma como o compreendemos.
Assim, o tempo, apesar de relativo na matéria, não existe de fato. A sensação de aceleração de tempo que identificamos em nossas vidas e que muitas pessoas vêm relatando em relação aos últimos anos, na verdade, é devido aos impulsos psicológicos que o homem moderno vem recebendo. Especialmente após as décadas de 50 e 60, a rotina das pessoas é muito agitada, muito comprometida em atividades que preenchem cada vez mais o dia, que ainda possui as mesmas 24 horas. A jornada de trabalho por exemplo deveria ter diminuído a medida em que as tecnologias evoluíram, mas aconteceu justamente o contrário. Estamos ainda mais escravos do trabalho, mais disponíveis e encontráveis para a as atividades profissionais do que antes, tendo agora que conciliar o tempo que passamos trabalhando com o tempo que podemos dedicar a nós. Os dispositivos móveis, a internet e os laptops nos fazem trabalhar mais que o dobro do tempo que nossos pais e avós, com uma produtividade mais que triplicada. Ou seja, não só a jornada de trabalho aumentou como o volume de trabalho que entregamos atualmente é muitas vezes maior.
“O pensamento é escravo da vida, e a vida é o bobo do tempo”
Isso tudo colabora para que nosso psicológico acelere a ponto de acharmos que o tempo também está acelerado, quando na verdade nós é que estamos atingindo um ponto limite de esforço, quase além do que o corpo consegue aguentar. Não é coincidência que derrames, ataques cardíacos e outras doenças também se intensificaram nesses últimos anos, com a pressão exercida pelas empresas e pelas atividades laborais em cima das pessoas.
Ninguém mais tem tempo para nada, todos estão sempre “na correria” e a ideia de que tempo é dinheiro nos acompanha constantemente e permeia, inclusive, a qualidade das relações que estabelecemos. Nisso tudo, espírito fica ainda mais negligenciado, pois, com tantas responsabilidades, quem tem tempo para desenvolver a consciência e atender aos chamados da alma?
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