Os veganos são mais evoluídos?
Cada vez mais pessoas estão aderindo ao estilo de vida vegano, que inclui, além da alimentação, hábitos de vida e consumo que não envolvam sofrimento animal. O veganismo é um movimento social, político e internacional que prioriza o respeito aos direitos animais, por razões éticas e também sustentáveis. O repúdio a atividades, organizações, empresas e produtos que usam os animais é uma das principais ações de quem adere ao movimento. No veganismo, uma pessoa humana não é melhor nem pior que qualquer outro animal e o valor da vida é absolutamente equiparado, não sendo aceitável nenhum tipo de exploração.
“Virá o dia em que a matança de um animal será considerada crime tanto quanto o assassinato de um homem”
Assim, o vestuário, a alimentação e consumo em geral é feito excluindo qualquer produto que tenha origem animal ou que possua sofrimento animal na cadeia de produção. São pessoas preocupadas com a natureza, igualdade de direitos entre humanos e outras espécies e com a continuidade da vida na Terra. O movimento só cresce e sociedade de mercado, que a tudo capitaliza, já percebeu que esse nicho é lucrativo e oferece inúmeras opções veganas aos consumidores a preços nada acessíveis.
Apesar das nobres intenções, existem críticas ao veganismo, como também alguma ingenuidade dentro do movimento. Então, chegamos a pergunta: será que os veganos são melhores pessoas?
Essa resposta é complicada, pois comendo carne ou não, ninguém possui uma reputação e evolução suficientes para julgar ao outro e se considerar melhor ou pior.
Alimentação na Transição Planetária
A Transição Planetária não é mais segredo e vem sendo muito difundida. O planeta está passando por uma transição, uma elevação da vibração espiritual e isso tem gerado impactos sociais. Na realidade, não é o planeta em si que está sendo sutilizado em termos energéticos, mas sim os habitantes do planeta, no caso, nós. É o nível de consciência de quem mora na Terra que faz dela um lugar bom ou ruim. Na natureza não há injustiças nem mal; basta olhar pela janela para constatar que, mesmo em épocas terríveis de inquisição, nazismo ou bomba atômica, os pássaros voam, as flores desabrocham, os rios correm para o mar e o sol sempre nasce. Tudo que há de errado no mundo foi criado pelo ser humano.
Quanto mais pessoas despertas, mais a energia se torna propícia para a evolução espiritual, o que acaba impactando mais e mais pessoas. Por isso estamos presenciando mudanças tão significativas de hábitos e visão de mundo. Pessoas que nunca imaginamos estão procurando a espiritualidade, buscando um sentido maior para a vida e mudando a maneira de viver. E isso inclui a alimentação e hábitos de consumo.
“Há muito de verdade no dito de que o homem se torna aquilo que come. Quanto mais grosseiro o alimento tanto mais grosseiro o corpo”
Perceber que a natureza não existe para nos servir é um grande avanço espiritual. Conseguir entender que os animais são seres conscientes, que sofrem e têm o mesmo direito à vida que nós, é parte essencial do processo de despertar. Quanto mais espiritualizada a pessoa, mais a natureza ganha importância e mais a pessoa percebe com grande revolta o tratamento terrível que os animais recebem. E essa percepção passa diretamente pela alimentação; se nutrir de outros seres, ingerir o que antes era uma vida e teve que sangrar para chegar até a prateleira do mercado realmente não parece elevado. Especialmente quando pensamos no sofrimento. O problema não está só em se alimentar de um animal, mas na cadeia de produção da carne que é de uma desumanidade assustadora. Qualquer pessoa que assista aos documentários sobre a cadeia de produção da carne ficará em choque e certamente irá pensar em abandonar esse hábito.
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Os impactos ambientais da carne: desmatamento, efeito estufa e consumo de água
Mais do que sofrimento, a carne seja de boi, porco ou vaca têm um custo ambiental enorme. Os impacto beira a loucura e está no topo da lista das possíveis causas da destruição do planeta. A quantidade de água que um simples hambúrguer exige é enorme. Também é absurdo o consumo de água na produção dos alimentos que sustentam esses animais, como, por exemplo, a soja e outros cereais. Além disso, também pesa contra a indústria da carne o desmatamento, seja para plantar soja, seja para servir de pasto para os bois. O desmatamento que a pecuária produz é responsável pela maior fatia da destruição natural, incluindo a Amazônia.
E não para por aí… Parece piada, mas é uma realidade triste: o pum das vacas aumenta o efeito estufa, terrível para o planeta. Durante a digestão, bois e vacas produzem muito metano, um gás que contribui com 23% do efeito estufa e é 21 vezes mais ativo que o gás carbônico na retenção dos raios solares. No Brasil, os rebanhos de bovinos e outros ruminantes (cabras, ovelhas e búfalos) são responsáveis por 90% do metano gerado no país. Para ser mais exata, não é bem o pum que libera esse metano mas sim o processo de ruminação, ou seja, o metano sai pela boca desses animais.
“Primeiro foi necessário civilizar o homem em relação ao próprio homem. Agora é necessário civilizar o homem em relação à natureza e aos animais”
E há especialistas que garantem que a poluição que a criação intensiva de gado causa na água e no ar é muito mais nociva que o aumento do efeito estufa. Nosso estilo de alimentação tem um custo ambiental altíssimo que ameaça a vida.
Veganismo pode salvar o mundo?
Aí começam as controvérsias. Da forma como o mundo está constituído, a resposta é não. Quem adere ao movimento pensando que somente a mudança dos hábitos alimentares e consumo pode salvar o planeta, está iludido. Mas veja bem, isso não retira o mérito em relação ao esforço vegano, especialmente porque se sacrificam pensando no bem comum. São, de fato, pessoas evoluídas quando comparadas ao egoísmo e individualismo que domina a sociedade moderna. Qualquer um que seja capaz de tomar atitudes que beneficiem ao grupo e não somente a si, está em um grau mais avançado.
Acontece que, infelizmente, o buraco é mais embaixo. Há muito a se fazer antes de pensarmos no sofrimento animal e é uma ilusão achar que banir a carne terá um impacto definitivo na questão ambiental. Uma vez que a indústria e as grandes corporações continuem a produzir os produtos que nos alimentam e mantenham seu poder econômico e político, vão seguir priorizando o lucro e fazendo o que bem entendem.
Vamos por partes: primeiro, é um pouco cruel falarmos em mudança de alimentação e ditarmos o que é consumível e o que não é, quando metade do mundo passa fome. E como sabemos, tudo que é orgânico ou vegano é mais caro, especialmente no Brasil. Não é muito viável esse discurso quando muitos ainda morrem de fome.
Outro ponto importante é ter a consciência de que o sistema que alimentamos é cruel com nós mesmos, humanos. Com o animal na cadeia ou sem ele, nós ainda temos índices elevadíssimos de trabalho escravo e infantil. Quase todas as chamadas fast fashion utilizam, direta ou indiretamente, trabalho escravo. A cadeia do cacau, da cana e tabaco também é toda escrava. Outro ponto terrível é a caça, cultura forte em muitos países. Por prazer, pessoas chamam de esporte a perseguição e abate de animais. Há quem pague altas quantias em dinheiro para matar animais ameaçados de extinção. Perto disso, o hambúrguer perde, filosoficamente, a importância. Nossa moda também gira em torno dos animais, utilizando o couro e as peles para alimentar os desejos fúteis da pequena parcela rica do mundo. Nosso carnaval também é um desfile de morte e sofrimento animal.
“Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante”
Por fim, o fato de existirmos já causa impacto ambiental. Mesmo que sejamos capazes de transformar nossos hábitos, a verdade é que a Terra tem um espaço físico limitado, além de recursos naturais que não conseguem caminhar na mesma medida que a natalidade. Quanto mais pessoas nascem, crescem as cidades e mais interferimos na natureza e desequilibramos o ecossistema. Não há como evitar os danos que a existência humana causa no planeta, pelo menos não da forma que algumas pessoas esperam.
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Mudança do sistema
O veganismo tem um valor inestimável, mas é uma pequena parte da mudança necessária para a preservação da natureza, do planeta e da vida humana. Em tempos modernos, preocupações dessa natureza são raras e merecem muito mais do que respeito. Mas estamos em uma rota de destruição tão acelerada, que mesmo mudanças radicais como as defendidas pelo veganismo não são suficientes para nos salvar.
Somente uma mudança no sistema como a queda da sociedade de mercado, nos permite pensar em uma transformação que seja significativa para a continuidade da vida. Imagine que, a partir de agora, todos se tornem veganos. O mercado da carne é extinto e nós só nos alimentamos de frutas, verduras e cereais. Os efeitos seriam muito benéficos e certamente conseguiríamos garantir mais tempo na Terra e menos destruição, mas, ainda assim, estaríamos dentro desse ciclo destrutivo. Isso porque as grandes indústrias e corporações continuariam sendo as responsáveis pela produção das “coisas”, incluindo os alimentos, o que significa, por exemplo, que continuariam utilizando fertilizantes e agrotóxicos nocivos ao meio ambiente, alguns deles apontados como responsáveis pela morte em massa das abelhas. O desmatamento seguiria a passos largos, o consumo de água e poluição do ar igualmente. Essas corporações continuariam trabalhando exclusivamente pelo lucro em detrimento de valores éticos e humanos, dando continuidade a crescente destruição da nossa casa.
Enquanto o sistema trabalhar pelo dinheiro, não existe muita saída para nós. O veganismo consegue exterminar a crueldade animal, inaceitável, mas ele perde força quando se propõe a salvar o planeta. Ele deve ser pensado como um primeiro passo, como um dos braços que vai sustentar a verdadeira mudança: a queda da sociedade de mercado. É uma utopia? Certamente. Mas deve estar em nosso horizonte.
Existem alternativas? A sociedade baseada em recursos é uma das melhores saídas. Acaba a escassez e a lógica passa a ser abundância. Caem os sistemas financeiros e o sistema econômico, o marketing e outras atividades ligadas ao consumo. Ao invés de importação e exportação, as nações passam a trocar recursos entre si. A indústria deixa de obedecer o capital e passa a operar sobre o controle de valores éticos. Nesse mundo é possível que cada um tenha sua horta, produza parte dos seus alimentos e os animais tenham sua integridade e direitos preservados. Mas isso é praticamente impossível, já que mal iniciamos a transição, a elevação consciencial dos que habitam o planeta, enquanto que as ameaças das mudanças climáticas e destruição ambiental caminham de forma progressiva. Alguns especialistas afirmam que não é sequer possível reverter os estragos, alegando que já estamos condenados.
“Um princípio básico do estado capitalista moderno, é que os custos e riscos são socializados ao máximo possível, enquanto o lucro é privatizado”
Se temos chances ou não, só o tempo vai dizer. E qualquer um que se preocupe com o bem-estar comum e se posicione contra qualquer tipo de opressão está um passo à frente. Mas com tantos problemas que transcendem a questão animal, julgar a evolução e o caráter de alguém baseado na alimentação não é viável. A evolução espiritual é muito mais ampla e profunda do que a decisão de se alimentar de carne ou não, mas a consciência de que a vida animal é tão importante quanto a humana é um aspecto primordial para a aproximação do humano com o divino.
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