A relação dos millennials com a espiritualidade
Cada geração tem suas características, crenças, acontecimentos e produção artística. E tudo isso influencia nos valores familiares, na forma como as pessoas se relacionam e também como elas criam os filhos. Mais do que isso, as gerações produzem pessoas com características únicas, peculiares e que são uma resposta a todos esses aspectos.
Basta imaginar que uma criança nascida nos anos 2000 sofreu influências e estímulos totalmente diferentes aos que uma criança nascida no século XVIII foi exposta. A tecnologia e a cultura que se formam com a época constroem um ambiente que imprime no sujeito características específicas, que dão a ele um sistema de crenças, valores e comportamento também específicos.
Então, quem são os millennials e como eles se relacionam com Deus?
Os millennials: os nativos digitais
A geração millennial é o termo usado para caracterizar indivíduos que nasceram entre a década de 80 e os anos 2000, que hoje têm entre 15 e 35 anos. São filhos da Geração X e netos dos baby boomers, sendo a primeira geração nascida na era das novas tecnologias: são, portanto, nativos digitais.
Vieram ao mundo na realidade dos equipamentos eletrônicos, celulares, computadores, do “online” e das redes sociais, estabelecendo uma relação íntima com elas e com a internet, a principal mudança ocorrida desde a geração de seus pais. Alguns millennials tiveram o privilégio de ver nascer a internet, pois quando pequenos o mundo ainda era analógico.
O fato de conviveram tão perto com as tecnologias e pertenceram a era da internet, dá aos millennials um perfil psicológico muito especial e totalmente adaptado ao novo mundo da tecnologia.
Como é um jovem Millennial?
Além de totalmente tecnológico, vivendo numa simbiose com celulares, tablets e outros aparelhos eletrônicos, eles são muito diferentes do seus pais. A visão de mundo millennial é muito mais romântica e tolerante, talvez em função da facilidade do mundo que se apresenta a eles. As dificuldades são outras e muitos usufruem do esforço de trabalho empreendido pelos seus pais e avós, muitas veze imigrantes, quando pensamos em termos de Brasil. Quase tudo já está pronto para ele, nada exige grande esforço e tudo é muito rápido. Os millennials estão a um clique de resolver alguma dúvida ou obter informação e são mais democráticos.
“Tecnologia é qualquer coisa que não estava por aí quando você nasceu”
Esta geração é também mais exigente no campo pessoal e profissional, com comportamento dinâmico e fácil adaptação à mudanças e transformações do mercado de trabalho. Ao contrário de seus pais, têm de estudar o dobro para consolidar uma carreira e o volume de trabalho que enfrentam é muito maior também, mas, em compensação, chegam ao topo da carreira muito mais rápido. A progressão profissional acontece mais rapidamente do que na época de seus pais ou avós: vemos jovens de 30 anos – até menos – no comando de grandes corporações ou assumindo cargos de destaque em empresas.
Tendem também a saltar de emprego em emprego, especialmente quando não se sentem valorizados ou sentem que já absorveram conhecimento suficiente em determinado local. Essa ideia de se formar, arrumar um bom emprego e se aposentar nele é inconcebível para um millennial; o sucesso da carreira e a bagagem profissional está atrelada a diversificação das experiências profissionais e isso envolve passar por diversas empresas e absorver de cada uma delas o que elas têm de melhor.
Os millennials são mais tolerantes às diferenças, mais otimistas e não têm medo de encarar um desafio. Velhos padrões sociais são rejeitados: a família se torna mais abrangente, rejeitam a autoridade e tendem a cultura de nichos ao invés das massas. São criativos, idealistas, não dão muita importância ao dinheiro, embora essa não seja uma regra. O culto ao mercado de luxo e aos espaços VIP e todo e qualquer tipo de tratamento diferenciado também é uma característica dessa geração, embora não seja seu traço mais marcante e nem todos sejam assim, superficiais.
São, na realidade, muito críticos em relação às regras sociais. Se alguns acreditam que o mundo está ficando mais chato e reclama do “mimimi” daqueles que agora possuem uma voz, a culpa é dos millennials. Preconceitos, discriminação, hierarquias de poder, padrões e regras rígidas não combinam com millennials, que além disso tudo ainda são muito atuantes na pauta do meio ambiente e na transformação dos padrões e hábitos de consumo que estão destruindo o planeta.
O relação com Deus
Assim como todos os outros aspectos psicológicos e comportamentais são característicos dessa geração da internet, a relação deles com Deus e a espiritualidade também é diferente da que seus pais foram ensinados a ter e que, talvez, tenham tentado ensinar aos filhos millennials sem sucesso.
Em termos de espiritualidade, podemos dizer que parte deles se declara ateu. Dizem que o Deus dos millennials morreu ou está mal. São cada vez mais os jovens que se declaram ateus, agnósticos ou indiferentes, apesar de sua criação quase sempre católica: três em cada dez jovens entre 18 e os 29 anos de idade já não se importa mais com questões transcendentais, negam Deus e romperam com a fé.
“Deus é muito grande para caber em uma religião”
Mas essa é somente uma pequena parcela desses jovens. Ela é significativa no sentido de que na geração de seus pais e avós o número de jovens ateus ou até mesmo adultos descrentes era muito pequeno, então essa é uma mudança que vale ser mencionada, embora não seja o principal traço da crença espiritual dos millennials. Na verdade, o que eles estão rejeitando é a ideia do Deus bíblico, a quem se teme, que tudo julga e proíbe e que pouco responde às questões da existência moderna. O senhor aterrorizante do antigo testamento está sendo substituído pelo amor incondicional e pela busca da espiritualidade dentro de si, sem a necessidade de intermediários. Buscam a expansão da consciência, a harmonia pessoal e da natureza, experiências pessoais mais metafísicas e transcendentais. Dogmas, regras e padrões parecem que vão morrer com seus pais.
“A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe”
Podemos dizer que a espiritualidade e autoconhecimento atrai mais os millennials do que a religião. Eles são questionadores e têm uma tendência a não aceitar uma imposição ou ideia “só porque sim”. É preciso argumentos e sentido para convencer um millennial de qualquer que seja a teoria, principalmente quando se fala de Deus e das origens da existência. Tudo que não tem lógica é abandonado imediatamente por eles. E isso tem sido ótimo, pois está obrigando as igrejas, especialmente a católica, a refazer seu discurso e apresentação de Deus para continuar a ver crescer sua comunidade e garantir sua continuidade.
Mas o que eles praticam então?
Aqueles que são believers tem um perfil mais espiritualista do que religioso. Buscam conhecimento em diferentes doutrinas e tendem a transcender fronteiras religiosas.
Procuram ser espirituais em termos de vivência, priorizando a experiência e o envolvimento com a comunidade e mostrando interesse por meditação e por outros tipos de filosofias que tragam bem-estar e equilíbrio. Todas as escolas esotéricas que oferecem uma espiritualidade voltada para autoconhecimento atraem muito a atenção dos millennials.
Como já citado neste artigo, a astrologia também é muito popular entre eles. Consultas de tarot, meditação, yoga, constelação familiar, reiki e todo tipo terapias alternativas também são as queridinhas dessa geração que está ajudando a construir o futuro.
Tudo que promete expansão da consciência e que tem a ver com a nova era fazem parte do sistema de crenças millennial. Transição planetária, física quântica e vida extraterrestre também são muito populares.
Com a contribuição deles, a espiritualidade está sofrendo transformações maravilhosas: Está mais diversificada, democrática e focada na evolução moral e equilíbrio do indivíduo, o que sem dúvida terá impactos muito positivos na sociedade.
Que venham as próximas gerações!
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